José Alberto olha para a ponte da ilha de Faro, onde os carros não param de passar rumo à língua de areia, já ela cheia de automóveis. Está sentado na esplanada da Estalagem Aeromar, que explora há 26 anos, e não tem dúvidas: "Alguma coisa tem de ser feita, mas não sei se isto é o melhor."
‘Isto’ é o comboio que também passa na ponte, vazio. Criado este Verão, liga o parque de estacionamento, junto ao aeroporto, até à entrada da ilha. Cerca de 200 metros, que custam 1,5 € (ida e volta) para quem deixe o carro no parque.
A acompanhar a criação do comboio, a Câmara de Faro colocou pinos em vários passeios que eram utilizados para estacionar. "Tiraram uns mil lugares", garantem os moradores, que temem que, em breve, o acesso de carros à praia seja limitado (ver caixa).
As preocupações sobre o futuro da ilha estendem-se, também, aos comerciantes, como é o caso de Edgar Baú, que além de morar na ilha tem um bar logo à entrada. "Ninguém usa o parque no aeroporto, nem paga 1,5 € para fazer 200 metros, ainda para mais se forem famílias que têm de pagar mais do que um bilhete", argumenta, prevendo que com as dificuldades em estacionar, os veraneantes escolham outras praias.
"E eu ainda tenho o bar aqui à entrada, onde o comboio pára", admite Edgar Baú, "mas se não houver circulação nem lugar para estacionar, o que vai acontecer a quem tem estabelecimentos nas extremidades? Ninguém vai a pé até lá", defende.
Na esplanada, José Alberto olha para o comboio, que volta a passar a ponte. Como costume, vazio. "Fazem as coisas e não perguntam nada às pessoas...", sentencia.
NOTIFICAÇÕES JÁ COMEÇARAM A SER ENTREGUES
Para além dos problemas com o estacionamento e a circulação, os moradores da ilha de Faro vivem na dúvida sobre que casas irão ser demolidas ao abrigo do programa Polis da Ria Formosa. Na semana passada começaram a chegar, a alguns moradores, cartas que dão conta que, após vistorias "a várias horas e em diferentes dias", se verificou que a residência não seria primeira habitação. Estas casas estarão na zona a renaturalizar ao abrigo do programa. Alguns dos populares que receberam as notificações garantiram ao CM que moram mesmo na residência na ilha de Faro. Esta é uma polémica que promete continuar.
TRÂNSITO NÃO SERÁ FECHADO
Cristovão Norte, da Câmara de Faro, garantiu ao CM que este Verão "não vão ser feitas quaisquer limitações ao trânsito na ilha de Faro". E acrescentou que o parque de estacionamento criado (apenas um espaço em terra batida sem qualquer sombra) "é provisório e, no futuro, será alvo de melhoramentos".
Sobre o pouco uso do comboio e o preço praticado nos bilhetes, Cristovão Norte não se quis pronunciar, pois "é explorado por privados". Já sobre a redução dos lugares para estacionar, referiu que "a autarquia se limitou a impedir o estacionamento em locais onde o trânsito ficava dificultado" precisamente pelos veículos que aí eram colocados.
Refira-se que, em alguns dos locais onde foram colocados pinos para impedir o estacionamento em cima dos passeios, os carros passaram simplesmente a a ser colocados na estrada, dificultando ainda mais a circulação. Cristovão Norte refere que isso é uma área que "compete à GNR, que tem de fazer cumprir a lei".
"correio da manhã"