15/01/2010

Câmara de Faro Acaba com a Água Gratuita na Horta da Areia

Desde há oito anos, a Câmara de Faro fornece gratuitamente a água aos moradores do Bairro Horta da Areia. A partir deste mês, por causa dos “abusos no consumo”, a factura passa a ser cobrada. “Há moradores que chegam a gastam três a quatro mil euros de água por mês”, diz Macário Correia, deixando um aviso: “Quem não pagar, corta-se o fornecimento – as regras são para todos.”

A falta de condições de habitabilidade deste bairro, nascido há mais de meio século, é uma queixa generalizada. São visíveis as bolsas de pobreza, mas também haverá quem ali viva sem ser por falta de meios financeiros. “Há de tudo um pouco – até negócios que são muito rentáveis, mas pouco lícitos”, enfatiza Macário Correia. A demolição do bairro está prevista, depois da construção de novas habitações. “Não ficarão todos juntos, para que não se forme um gueto”, adverte o autarca, anunciando o início das obras para este ano.

A iniciativa de não cobrar água partiu do ex-presidente do município, José Vitorino. “Uma grande decisão estratégica”, ironiza Macário Correia. “De certa maneira, não estou contra a que se pague, porque há quem exagere nos gastos”, observa Maria Cecília Cristão, de 63 anos, que mora ali há 53 anos. A câmara estima que sejam cerca de 60 as famílias que ali moram em situações precárias.

O Bairro da Horta da Areia, com mais de meio século, constitui uma das imagens mais degradantes de Faro. Apesar de se localizar num sítio nobre – junto à ria Formosa –, é um daqueles locais onde os turistas passam o mais longe possível.

Esperanças perdidas

Maria Fátima Santos, vestindo saia preta até aos pés, espreita o sol. “Dentro de casa, ainda faz mais frio do que na rua”, diz. Em seu redor, as crianças brincam na lama. “Quando queremos tomar banho, tem de ser num alguidar”, lamenta a mulher, lembrando que, apesar de tudo, há quem esteja em piores condições. “Ali [na barraca em frente] é que é mesmo uma miséria, encontra-se uma velhota entrevada numa cama.” Quem abre a porta é um homem de 45 anos. A mãe, imóvel na cama, não diz palavra. “Estamos aqui há cerca de 30 anos, desde que fomos desalojados de uma casa na Rua da Misericórdia.”

A família sonha com um espaço mais confortável, mas parece já ter perdido a esperança. “De vez em quando falam nisso, mas depois esquecem”, lamenta. Confrontado com a decisão municipal em relação à água, manifesta-se alheio ao assunto: “Não sei de nada.”

No levantamento que a autarquia mandou fazer, chegou à conclusão que a maioria dos moradores terá consumos médios, na ordem dos 20 ou 30 euros, mas há situações anormais. “Já tenho um aviso com mais de 300 euros para pagar”, diz Ana Paula, vendedora ambulante. “Não pago, e se aqui vieram cortar a água, levam uma mocada.” À ameaça, segue-se o rol das carências habitações, salientando que “haverá perdas de água porque os tubos das canalizações estão velhos e rotos”.

Sem comentários: