07/01/2011

Faro legaliza arrumadores e não há lugar para todos

Alguns arrumadores até guardam a chave do carro
 
A Câmara de Faro abriu concurso para licenciar 17 arrumadores de automóveis. Porém, os lugares disponíveis não chegam nem para metade dos indivíduos que se dedicam a esta actividade, até agora clandestina. Quem continuar a exercer este trabalho sem licença, sujeita-se a coima que varia entre os 60 e os 300 euros.

Há dois dias, Joaquim Escapa, no Largo de São Francisco, em Faro, foi notificado para pagar uma coima de 162 euros. "A polícia levou-me 14 euros, e agora querem que pague uma multa. Podem ficar descansados que não pago, porque não tenho dinheiro", diz. A relação que tem com os utentes do parque "não podia ser melhor - é excelente". "No Natal, uma senhora ofereceu-me um bolo-rei e uma garrafa de vinho", exemplifica. Ainda não fez a candidatura para se legalizar, mas tenciona vir a efectuar o requerimento nos próximos dias.

Um dos requisitos para concorrer às vagas é a apresentação do registo criminal limpo, acompanhado de uma declaração de "início de actividade" na Direcção de Finanças ou declaração de IRS. O presidente da câmara, Macário Correia, diz que a autarquia pretende, com essas exigências, avaliar o "comportamento e perfil" do candidato a arrumador. Para o Largo de São Francisco - o maior parque de estacionamento da cidade, com 950 lugares -, estão previstas três licenças. Actualmente, reconhece o próprio autarca, presta lá serviço, em certas alturas do dia, cerca de uma dezena de arrumadores. O que vai acontecer aos que ficarem sem licença? "O número de 17 lugares foi aquele que a câmara e a PSP acharam que seria necessário", diz o autarca do PSD.

A legislação para licenciar os arrumadores de automóveis existe desde 2004, mas muitas autarquias ignoram estes homens. Quem os supervisiona são as autoridades, que, umas vezes, fecham os olhos e outras actuam, principalmente quando há queixas.

Nuno Afonso, filho de uma empregada de limpeza, já foi ver o que era preciso para se legalizar. No que diz respeito aos colegas que vão ficar no "desemprego", porque os lugares não chegam para todos, observa: "Há por aí muita malta que não merece. Se uma pessoa lhes dá 20 ou 30 cêntimos, por não ter mais, são capazes de atirar o dinheiro fora".

A gratificação é voluntária, e os arrumadores têm de estar identificados com um cartão pendurado ao peito. Para atestar o seu "bom comportamento", Nuno aponta para a camisa preta, de bom corte, que tem vestida: "Deu-me uma senhora que costuma estacionar aqui um BMW. Uma para mim, outra ali para o Paulo." Ambos, na casa dos 30 anos, acham que têm direito a obter licença de arrumador. "Andamos nisto desde miúdos, começámos a limpar vidros no parque da Pontinha e depois passámos a pedir moeda para ajudar a arrumar". Joaquim Escapa chama a atenção para um eventual aumento de criminalidade, nos próximos meses. "Em Olhão, acabaram com os arrumadores, cresceram os roubos", sugere.

No Largo das Bicas Velhas (junto ao Teatro Lethes), o parque de estacionamento com capacidade para meia centena de lugares é "gerido" por Paulo, de 32 anos, e por Miguel, de 36. Segundo o edital municipal, só um é que irá ter direito à legalização. "Vai dar uma grande confusão", diz Paulo. Por outro lado, questiona: "E o que vai fazer aquele que ficar no desemprego?" Os automobilistas que ali estacionam, acrescenta, são quase todos conhecidos. "Empregados das lojas da Rua de Santo António e funcionários públicos, dão 50 cêntimos ou um euro". E para mostrar que é "pessoa de confiança" tira dos bolsos, seis exemplares de chaves de viaturas, que os donos lhe confiaram para estacionar.

1 comentário:

Anónimo disse...

MACARIO PEÇO POR FAVOR PARA ACABAR COM OS ARRUMADORES JUNTO DA FARMACIA DO HOSPITAL