17/11/2010

Groundforce Despedimentos bruscos são situações de "stress" agudo


O desemprego é um dos factores que podem causar depressões, mas os despedimentos bruscos geram reacções emocionais e físicas mais intensas, situações de grande pressão.

"Já vi muitos homens a chorar nos últimos dias." A confissão é de Mateus Mendonça, um dos 336 trabalhadores da Groundforce do aeroporto de Faro, despedidos esta semana. Sem aviso. "Estávamos numa formação quando bateram à porta a contar a notícia, que tinha saído num jornal", conta o trabalhador. A reacção inicial foi de choque. O que é de esperar quando "há um despedimento brusco, porque gera uma situação de stress agudo", explica a psiquiatra Luísa Figueira.

"Uma notícia tão dramática, quando é inesperada, gera reacções imediatas mais intensas. Há pessoas que têm uma reacção muito forte - psicológica e física", acrescenta. Uma situação de stress agudo agrava, por exemplo, o risco de doença cardíaca.

No entanto, a longo prazo, um despedimento brusco tem o mesmo efeito que um que já era esperado, como no caso de uma fábrica em dificuldades, acrescenta a especialista. "Por um lado é preciso salientar que o despedimento acaba por gerar mais quadros de ansiedade do que de depressão. Há uma preocupação com a sobrevivência, que vai crescendo à medida que o tempo vai passando sem a situação se resolver." Só quando a pessoa sente que não tem capacidade para ultrapassar o problema é que há um esgotamento e uma desmoralização e a pessoa pode entrar em depressão.

Mas a reacção varia sempre de cada pessoa, salienta: há pessoas naturalmente mais resistentes do que outras; não é a mesma coisa ser despedido aos 30 ou aos 50; não é a mesma coisa ser dispensado depois de passar a vida numa empresa ou já ter uma carreira e mentalidade habituadas à mobilidade.

No caso dos trabalhadores da Groundforce "quase todos têm mais de 15 anos de casa", diz Mateus Mendonça, há 19 anos na escala de Faro. "Não há grandes palavras para explicar o que aconteceu. Ninguém queria acreditar. Nem o trabalhador mais pessimista podia prever um desfecho destes", diz. A confirmação do despedimento chegou a meio da tarde, por e-mail, depois "de horas de desespero". "Caiu-nos muito mal, a forma como foi feito", acrescenta.

Há colegas que ainda não voltou a ver desde o início da semana e nem quer imaginar como estão. "Eu, sou só eu aqui, mas há 13 casais que foram despedidos. E pela idade e porque são trabalhadores muito especializadas as saídas profissionais são muito escassas. É um choque tremendo", repete.

Também Andreia, uma das 22 enfermeiras que trabalhavam em centros de saúde algarvios e foram dispensadas por telefone no início da semana, foi apanhada de surpresa. "Quando telefonaram a dizer para não me apresentar ao trabalho no dia seguinte não estava completamente desprevenida porque uma das colegas tinha-me telefonado minutos antes, assustada, a contar o que tinha acontecido. Mas foi tudo muito inesperado", diz a enfermeira de 23 anos. Mas além de ser mais nova Andreia ainda tem esperança que a situação se resolva: "Acredito que sim, porque somos necessárias."

"Não há doenças, há doentes", resume o psiquiatra Álvaro de Carvalho, acrescentado que as circunstâncias de vida de cada um são, nestes casos, fundamentais.

No entanto, há despedimentos que as pessoas sentem como sendo especialmente humilhantes. "Ao nível dos quadro superiores, por exemplo, quando são medidas isoladas, o que é raro, e há uma perda de estatuto social muito brusca, a auto-estima sofre muito", diz Luísa Figueira.
"D.N."

1 comentário:

Anónimo disse...

Caros companheiros da Ground Force:
Vi na televisão uma entrevista de um dos desempregados da empresa, onde ele disse que "até ia varrer as ruas se necessário".
Trabalhei na área do Turismo, estou desempregado há dois anos e meio e já terminou o meu subsídio.
Nesta situação de desespero estou inscrito há vários meses em várias empresas ligadas à recolha de inertes na categoria de Cantoneiro de Limpeza Urbana...e até aos dias de hoje...nada!
Até para varrer as ruas está difícil encontrar emprego.
Testemunho de um Desempregado.